9.4.10

O TIO PEPE

O tio Pepe era um homem, amante da sua aldeia, e das suas noites. "As noites são as minhas noites", dizia ele. "Ninguém m'impede de calcorrear as minhas noites".

Com tez escura, cabelos pretos lisos e mal cortados, usava um chapéu preto enterrado na cabeça até às orelhas. Já conhecia os seus caminhos da noite. Acariciava as árvores, esperava os animais noctívagos como ele e que já não se assustavam com aquele vulto escuro. Amava a sua pedra, que era o seu assento para virar os olhos ao céu e admirar as luzes das estrelas que o esperavam ansiosamente. Já estavam habituadas à sua companhia. A luz da lua, a sua querida lua, como ele dizia, era a sua companhia para o guiar nas suas deambulações. Sem ela seria mais dificil encontrar os seus caminhos. "O firmamento me cobre, sinto-me como o rei das minhas noites". De vez em quando fechava os olhos e pensava nos acontecimentos do dia que terminava, do dia que já pertencia ao passado e não voltava mais. Não esquecia o botequim da sua aldeia onde às vezes se dirigia para encontrar os seus amigos que raramente o viam e lhe perguntavam? "Então Pepe? Qué feito de ti homem de Deus ca gente mal te põe a vista em cima?". "Saio pouco, tenho os meus bichos p´ra tratar, os meus afazeres, as vacas pr´ordenhar, a cama pr'alisar os lençóis onde me deito p´ra descansar dos meus passeios pelas minhas noites".

Pequenos contos dos meu imaginário.

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