12.7.10

A PROCISSÃO

Tocam os sinos da torre da igreja.
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.

Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!

Ai, que bonitos que vão os anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma asa!

Tocam os sinos na torre da igreja.
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das mantilhas,
Parecem anjos que vieram do Céu!

Com o calor, o Prior aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Já passou a procissão.

Letra: António Lopes Ribeiro
Intérprete: João Villaret



4.7.10

COMIDA DE PLÁSTICO NAS ESCOLAS

É uma triste realidade dos nossos dias. Porque não dizer epidemia! Mais nos centros metropolitanos, onde os jovens frequentam as escolas, as refeições servidas a quem está em pleno desenvolvimento corporal e mental, são sempre iguais. A cor verde, representativa dos vegetais, não se vê nos tabuleiros das crianças. A fruta também escasseia. Predomina o amarelo dos "douradinhos" (fritos) e o amarelo das batatas, também fritas. As bebidas coloridas, feitas sabe-se lá como, demasiado doces e que muito contribuem para os excesso de açúcar no sangue. Pobre aparelho digestivo que deve estar saturado de tantos alimentos impróprios para o são funcionamento que a maravilhosa máquina humana precisa e merece.

Há dias atrás, num canal inglês, tive a oportunidade de constatar que, alguém muito especial, tomou uma iniciativa de louvar, e que se traduzia em melhorar a triste situação que atrás refiro. Trata-se de um mestre de cozinha, ainda jovem mas de grande qualidade na confecção da alimentação saudável. Fiquei feliz e pensei: "finalmente alguém se levanta, dá um murro na mesa, e tenta salvar as crianças viciadas na comida de plástico.

Arregaçou as mangas e, mãos à obra. Primeiro uma bela sopa de legumes, com sabor divinal, a seguir um empadão que escondia tudo aquilo que as crianças não gostam, porque também nas suas casas não foram nem são habituados a comer uma comida variada. Até os próprios pais, por causa do stress e das corridas diárias para o trabalho e do trabalho para casa, não têm tempo da confeccionar aquelas belas comidinhas do tempo dos nossos avós. Belos tempos esses...

Mas, voltemos às cantinas. É hora de almoço. As crianças são muitas e o barulho é ensurdecedor. O nosso chefe, cheio de esperança vai perguntando: então, jovem, o que queres para almoçar?

- Douradinhos e batatas fritas.
- Não queres começar com uma sopinha especial, muito gostosa que fiz para ti?
- Não, douradinhos e batatas fritas.
- E o empadão tostadinho, desse deves gostar!!! Só de o olhar ficas com água na boca.
- Não, douradinhos e batatas fritas.

O chefe, caíu-lhe o coração ao chão, triste, desiludido, porque tanto se tinha empenhado em implementar a viragem dos maus hábitos alimentares das nossas crianças, para uma alimentação saudável e racional de que tanto se fala e muito pouco se faz.
Prometeu, porém, que não ia desistir. Era uma batalha que se tinha proposto vencer. Palmas para pessoas assim. Palmas para quem se preocupa com os outros e não olha só para o seu umbigo.

Não percamos a esperança porque esta é a última a morrer.

***

3.7.10

DE UM LIVRO DE CONTOS


A VERRUGA


Estava em casa, sentado, quando a minha tia disse "UFF". Vi logo que havia coisa. Fui ver. Tinha-lhe nascido uma verruga na orelha. Não achei aquilo normal e, por isso, procurei imediatamente o meu tio brigadeiro.

-"Vamos falar com o Ministro. E fomos. O Ministro não quis acreditar. "Isso não é normal". Mas eu vi!

-"Sendo assim, será melhor não se saber de nada. Já viu o que isso pode causar?
-"Começam a inquirir, a verruga passa a ser tema de conversa, os anarquistas aproveitam o momento, a greve surge, tudo se complica, e depois a intervenção das Potências de Guerra. Melhor não dizer a ninguém. Guardaremos segredo e o Estado compensará. Pela expressão do meu tio brigadeiro vi que o caso era grave.
-" Mas Excelência, é assim tão importante?"
-" Meu amigo, a Pátria corre perigo."

Senti que era a hora da decisão.

-" Se a Pátria periga, não desejo a mínima recompensa. Comigo é assim. Pela Pátria é tudo. Calarei."

Calamos.

Dois dias passados e a minha tia recebia uma carta escrita pelo Imperador, agradecendo e louvando.

A carta ainda lá está. A verruga também.

Quanto a mim, continuo sentado lá em casa. Calado.

***

ACONTECEU COMIGO!!!














"Nothing is so beautiful as spring when weeds, in wheels, shoot long and lovely and lush...

Autor: Gerard Manley Hopkins - "SPRING" (poema)


Devem ter já passado uns bons largos anos desta minha vida, de más e boas recordações (quem as não tem!!!), que as duas frases acima, que são o começo de um belo poema de Hopkins, me marcaram positivamente e para sempre. Trata-se de um momento inesquecível para mim, o qual, de quando em vez me visita no tumulto dos meus pensamentos misturados, em desalinho envergonhados. Foi numa tarde de aulas, no estabelecimento de ensino na cidade onde nasci, que tudo aconteceu. Era costume, nesse estabelecimento, num certo dia da semana, fazer-se uma espécie de julgamento, em forma de círculo, onde estava presente um só juiz, um "arguido" e as testemunhas de "observação" acomodadas à volta da sala. Devo salientar que éramos só alunos e professor. Nessa tarde fui eu a "arguida". Havia uma cadeira, lá bem no meio, para onde eu tinha de me dirigir e tomar assento. Assim fiz, com os nervos saltitantes, o sangue mais apressado na sua correria louca dentro de mim, e as faces vermelhas que me queimavam. Eu tinha de comentar, na língua de Hopkins, para que todos ouvissem e me julgassem, o poema que acima menciono. Nesse dia, não sei como nem porquê, eu estava inspirada e decidida a fazer figura. As dezenas de olhos pregados em mim, ao invés de me assustarem, tiveram o efeito contrário e, aí vou eu... Que apreciava o poema de Hopkins, porque as suas palavras me faziam VER o que ele descrevia, como o rebentar dos botões da planta, a surgir para a vida, para a natureza, com um movimento que começa dentro do ramo verde para o exterior soalheiro, cheios de beleza e de frescura ainda húmida! A graça e a actividade próprias da estação. Com o calor do sol tudo entra em actividade e alegria. É a beleza de tudo que nasce e que é tenro e que é perfeito. Continuei, dentro deste estilo, com palavras minhas e ao meu jeito. Eis senão quando, ouço um comentário..."Parabéns, você compreendeu exactamente o desejo de Hopkins que era tornar o desabrochar, o mais real possivel". Alguém bateu palmas e... mais palmas se seguiram. Era costume. Era a sentença mais desejada do arguido. Se ele merecia, palmas não lhe faltavam. E eu, nem queria acreditar, eu tinha merecido...Coisas simples da vida que não esquecemos...

Adelaide

2.7.10

MANHÃ DE NOVEMBRO









O mês do ano que, acinzentado e frio, todos os anos se despede de mim deixando-me como prenda um ano mais. Estou cansada destas prendas! Verdade seja dita! Pois foi no passado mês de Novembro que uma rajada de vento, por acaso não muito forte, o que achei simpático da parte do elemento , veio direita a mim juntamente com um pequeno pedaço de papel que, em movimentos graciosos mas apressados resolveu aterrar junto dos meus pés. Por curiosidade, peguei e olhei-o. Ali estava um poema, "Manhã de Novembro", sem autor, poema húmido e enevoado, triste, frio, com vento, com chuva... Como sabia o vento, que me presenteou com este poema triste mas belo, que eu tinha uma ligação forte com este mês? E porque veio ter comigo em Março, é verdade em Março! É para mim um mistério como misteriosos são também os sonhos que todas as noites me visitam e que
logo se desvanecem quando, aos poucos, me vou aproximando da realidade de mais um novo dia para viver.

Eis o dito poema:


Que manhã de Novembro triste e fria!
Gemia o vento...o chão todo molhado...
Era tudo cinzento enevoado,
naquela hora amarga em que eu partia...

O céu também chorava nesse dia...
a terra tinha o ar atribulado
de alguém que padecesse abandonado
na hora derradeira da agonia!

Meu Deus! Em tudo havia uma tristeza,
um desconforto enorme, uma frieza,
que doutra semelhante não me lembro!

Que mão secreta havia destinado
ficar meu coração amortalhado
nas brumas desse dia de Novembro?...


***