27.6.09

O POBRE DO TIO LEONARDO







No seu quartinho minúsculo,
pouco limpo, pouco cuidado,
sózinho, triste, abandonado,
vive o pobre do tio Leonardo.

Para fugir à tristeza,
sai de casa devagar.
vai andando, andando,
até seu banco encontrar.

À sua frente tem o rio.
Imagem de todos dias. Adora ver.
Solução encontrada para esquecer
que tem fome e não que comer...

Por fim volta para casa.
Ninguém para o receber!
Está cansado vai p'ra cama
e tenta adormecer.

Neste estado de coisas,
suas forças vão faltando.
seu corpo vai curvando
tem vontade de morrer...

Quantos tios Leonardo´s
por esse mundo sem fim!
viver assim não é viver.

Para quê nascer?
E não viver?
Para quê sofrer?

5 comentários:

A. João Soares disse...

Querida Milai,
Os idosos, além da falta de saúde, sofrem de um mal que deve ser demasiado penalizante, a solidão.
Por isso, considero que um computador ligado à Internet permite combater a solidão. Mesmo que possa fazer falta o contacto oral e visual, sempre é melhor do que nada, e os e-mails e blogues permitem fazer amizades muito compensadoras, sem limites geográficos.
Este seu poema é o retrato de muitos Leonardos e de muitas D. Marias que depois de enviuvarem ficaram entregues a si mesmas e às suas recordações.
Triste sociedade em que se abandonam os idosos.
Mas nos dias que correm raros idosos têm possibilidade de usar um computador!
O combate à solidão tem de começar pelo próprio, na procura de contactos com os outros em cada momento na rua, nas lojas no jardim, etc
Mas não é fácil. Nas «universidades para a terceira idade» em que actuei, deparei com muita senhora, viúva, sem família, que ia ali só para se sentir no meio de gente e dar dois dedos de conversa.

Beijos
João

Beijos

Adelaide disse...

QUERIDO JOÃO.

AI DE MIM SE NÃO FOSSE A INTERNET. JÁ CUMPRI OS MEUS DEVERES DE MULHER ESPOSA E MÃE. AGORA ESTOU NA FASE DA SOLIDÃO. MAS CONSIGO VENCE-LA. JÁ PENSEI NAS UNIVERSIDADES DA TERCEIRA IDADE MAS SÓ PARA CONVERSA NÃO ESTÁ MUITO MA MINHA MANEIRA DE SER. SÓ IRIA MESMO PARA ESTUDAR. TENHO MUITA PENA DE QUEM NÃO É CAPAZ DE SE APROXIMAR DE UM COMPUTADOR.

BEIJINHOS
MILAI

a d´almeida nunes disse...

Querida Milai

Tenho uma profissão muito solitária. Que me obriga a infindáveis horas de trabalho, com números e mais números, relatórios e estatísticas sem fim.
E as horas passam. E os dias passam e voltam a passar...
É certo que tenho a Zaida, minha mulher de há mais de 40 anos, tenho 2 filhos, tenho 3 netos. Tenho também ainda os meus pais e irmãos (4, mas estamos todos afastados geograficamente...parece perto mas é longe...longe). As saudades, às vezes, corroem a alma.
Mas nada comparável ao Snr. Leonardo! Até sinto suores frios só de me pensar a viver esse drama de miséria e velhice solitária...
E quantos Snrs. Leonardos e D. Marias (como diz o nosso amigo João) não passam por nós e, as mais das vezes nem damos por eles.
...
A propósito vou telefonar aos meus pais...80 e tal anos, Viseu, numa aldeia próxima, onde nasceram e regressaram há uns quantos anos.
...
Depois... voltar aos números para o Fisco decidir se devem apertar um bocadinho mais o gasganete às nossas pequenas empresas!...

Um beijinho
António

Adelaide disse...

Querido Amigo António,

Ainda trabalha assim tanto! Desconfio que sei qual é a sua profissão. Basta que fale em fisco e está tudo dito. Na verdade as saudades corroem a alma. Eu também sinto isso. A solidão também, só que para mim a solidão traz-me alguns bons momentos que eu aproveito sofregamente. O descanso, o silêncio por vezes tão necessário para arrumar o nosso espírito. Fico muito feliz sempre que me visita e dou graças pela existència da "desgraça" da Internet. Para mim é a ligação ao mundo. Também dou graças porque muita gente da minha idade nem pode olhar para o computador o que eu acho uma grande pena. Mas, tem os seus filhos e 3 netinhos que são a sua alegria,como eu, que tenho 4 e preenchem o meu tempo e cuja companhia afasta a tristeza que por vezes me invade.

Que os seus dias sejam plenos de felicidade e alegria.

beijinhos
Milai

Maria Letr@ disse...

Coloco acima de qualquer coisa, no mundo, o problema dos velhos e das crianças. Toca-me profundamente saber que sofrem. Os extremos tocam-se e são seres à mercê dos cuidados dos que ainda estão em posição de olhar por eles.
É de grande importância cultivar interesses nas pessoas, para que possam preencher os seus tempos livres em coisas que possam fazê-las felizes, para que não sintam solidão quando atingem a sua velhice.
Um beijinho, Mara.
Maria Letra