
Num pequeno povoado, de aparência muito tranquila, os seus habitantes viviam bastante nervosos e insatisfeitos com a sua vida. Talvez pelo excesso de trabalho, lavrando as suas terras, ou pelo aborrecimento da rotina do dia a dia. O certo é que os homens, quando podiam, não saíam do bar e as mulheres não eram felizes. Os meninos eram muito violentos. Só havia uma pessoa que parecia ser feliz. Era a senhora Ana, já muito perto dos cem anos. Todos os dias se sentava debaixo da árvore que havia na porta de sua casa e que dava sombra numa fonte. (Desde que havia água nas casas ninguém bebia desta fonte). Um dia, a senhora Ana ficou muita surpreendida e com cara de felicidade. Pedro, o da forja, que nesse momento passava por ali, perguntou: "Que tal a sestazinha de hoje"? Ela respondeu: – "Hoje tive um sonho muito lindo"!
"Conte-me lá, de que se trata"? "Apareceu-me um ser sobrenatural que me disse que, para remédio dos problemas, se deve beber água desta fonte". Pedro sorriu e seguiu seu caminho pensando que a senhora estava perdendo o juízo. Quando chegou a casa, a sua mulher recriminou-o por chegar tarde mas, ele nem se importou pois era o acolhimento de todos os dias. Vestiu-se e foi ao bar jogar uma partida de dominó. A mulher ficou triste pela falta de diálogo que havia entre os dois sentindo-se culpada porque pensava que era ela que não sabia ter uma conversa interessante com ele. Pedro passou a tarde com seus amigos. De regresso a casa, e temendo o acolhimento da mulher, perguntou-se: e se fosse verdade o sonho da senhora Ana? Ao passar pela fonte, olhou para um lado e para o outro, acercou-se e bebeu um pouco de água. Fazia tanto tempo que não a bebia que lhe soube muito bem. Chegou a casa e notou que sua esposa estava diferente. Então pensou que infeliz se sentiria sem as suas atenções. Falou com os filhos e deu graças a Deus por tê-los. Ele, que estava sempre a protestar por causa das suas travessuras...! Naquela noite foi atencioso com sua esposa, demonstrando-lhe o seu amor, doce e apaixonado. Na manhã seguinte, como de costume, foi trabalhar. Desta vez despediu-se de sua mulher contando-lhe o sonho da senhora Ana, rindo, porque tinha bebido um pouco da água milagrosa. Ela não lhe deu importância mas pensou se seria pela água a mudança que tinha notado nele! Correu de boca em boca, a fama das propriedades da água e todos os que sentiam que na sua vida faltava algo de atractivo, começaram a beber da água da fonte. Todos agora eram felizes! Os homens voltavam cedo a casa e eram atenciosos com suas esposas,que se tornaram mais vaidosas, mais "coquettes" e atenciosas com seus maridos. As crianças e os jovens eram mais respeitosos com os adultos, os quais se sentiam mais amados.
Um dia, a fonte começou a ter pouca água, até que acabou de deitar. Os vizinhos daquele povoado ficaram tristes pensando que a felicidade que sentiam se perderia pela falta da água milagrosa. A senhora Ana, que já tinha completado mais de cem anos, disse-lhes: "Não tenhais medo. A água fez os milagres porque vós assim o desejastes".
FIM
(História, traduzida de espanhol para português, e gentilmente cedida pela autora Josefa Alcaide, de Barcelona)
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